Por Sokrates Papageorgiou.

Antes do Photoshop, o Termo Design

O design é um fenômeno relativamente novo na humanidade, novo no sentido oficial do termo porque existe como práxis desde a forja da primeira ferramenta. Surgiu para colocar alguma ordem no mundo industrial, adequando formas à produção e ao gosto do público, mediando as qualidades do objeto. 

Designer é um agente transdisciplinar, que se preocupa com a estética do produto, mas também com sua forma de produção e os impactos sociais, políticos, ambientais e psicológicos. É uma profissão que lembra os antigos mestres artesãos cuidadosos com todo o processo de fabricação e que assim atestavam a qualidade de suas obras.

 

Profissão do Futuro?

Ouvimos que o design é a profissão do futuro ao passo que é pouco valorizada no mercado. Iphones são reverenciados pela sua forma/função, como um ídolo de jade que se apresenta à uma tribo primitiva qualquer, e exércitos de recém formados se digladiam para recortarem fotos em agências de publicidade por um salário ofensivo.

A atividade é fruto das necessidades de mercado, uma atividade valiosa para potencializar não só os lucros, mas as mensagens implícitas em cada produto, então por que tão importante arma é desvalorizada? Um estranho paradoxo que pode ser explicado pelo próprio processo de produção industrial.

A produção cultural é trabalhada de maneira fordista, uma linha de montagem em que super-especialistas vão derramando no produto suas competências até um resultado final calculado pelas duas pontas do processo, o projetista e o vendedor. O vendedor analisa as necessidades do mercado e calcula as possibilidades de lucro e o projetista desenvolve o plano para a informação da matéria prima. São as duas atividades intelectuais, críticas do processo de produção, e as mais caras por essa razão, resta às outras etapas do processo apenas a aplicação do plano, atividades laborais baratas por dependerem apenas de treinamento.

 

A Formação do Designer

O designer é formado sabendo um pouco de tudo e muito de nada em um mercado que exige a hiper-especialização. Numa ponta ele concorre com arquitetos e engenheiros, sujeitos educados e conformados para serem projetistas, e na outra ponta a briga é contra publicitários, marqueteiros e especialistas em mercado consumidor. Obviamente existem designers trabalhando intelectualmente, mas à massa resta a linha de montagem, e o sujeito graduado se torna um operador de software.

As instituições de ensino superior conhecem esse quadro e prometem uma inserção rápida no mercado de trabalho porque mapearam os meandros desse sistema. Elas captam exércitos de alunos e os preparam para a operação de programas de computador, os conformam às linguagens do mercado com professores publicitários, marqueteiros, arquitetos, engenheiros, que enxergam o exercício do design de forma fragmentada, e pronto!

Temos um operador de Photoshop que não terá dificuldades em arrumar um emprego de um salário mínimo e meio! Mas os cursos oferecem aulas de semiótica, teoria da comunicação, história da arte, etc, etc, etc. De fato oferecem, mas tem enorme dificuldade em articular todos esses saberes por conta da sua própria estrutura modular, que encara o aluno como um objeto qualquer em que são parafusadas as disciplinas, e àquele Frankenstein cognitivo é entregue um diploma qualquer.

 

Design e Indústria

É irônico pensar que o Design é fruto de uma necessidade industrial e sofre justamente pelo modelo industrial de produção. Uma atividade holística, ampla, trasndiciplinar, filosófica, política é reduzida a uma etapa de produção qualquer, a um pacote de softwares, pelo simples fato de enxergar o processo de maneira aberta, de entender todas as etapas.

Obviamente o que foi apresentado é apenas uma hipótese, uma provocação, esta discussão ainda está aberta, longe de uma resposta, e toda a contribuição é bem vinda. Muitas perguntas precisam ser respondidas! Qual é a função social do designer? O que o mercado espera? Quais são as reais competências que um designer deve possuir? Qual é o papel das instituições de ensino na formação do sujeito-designer? Estamos fazendo isso certo? Respostas bem vindas pelo bem do design, dos designers e da sociedade que dele depende.