No quarto dia de dezembro de 1866 Moscou celebrou o nascimento de um dos mais interessantes pintores modernos. Wassily Kandinsky, de família católica ortodoxa, começou, em Munique, seu treinamento em artes plásticas aos 30 anos. Influenciado pela Secessão, e preocupado não apenas com o valor poético e estético, o artista funda o movimento “O cavaleiro azul”, que formula a renovação da arte pela vitória do irracionalismo oriental sobre o racionalismo artístico ocidental. Escreve em 1910 o livro “Sobre o espiritual na arte”, onde filosofa sobre cores e formas, seus comportamentos dinâmicos e suas modulações.
A Busca de Kandinsky
O “espiritual” de Kandinsky não é o “ideal” platônico, pois este representa um significado racional, mas sim o não-racional, a existência total onde as realidades físicas e psíquicas não se diferenciam. A busca aqui é por algo maior do que a relação contemplativa entre obra e espectador, a busca é pela fruição, pela troca entre o estímulo do artista e a sensação do receptor. Assim a busca estética é provocativa, fugindo de modelos, de algo que represente algo, partindo para a sugestão, para uma provocação que individualiza a experiência artística.
O resultado desta busca é uma obra não-figurativa, de pura intencionalidade ou vontade expressiva, não se apoiando em nenhuma experiência comunicativa. É uma organização de signos, de linhas, cores, formas, desordenados mas não sem sentido, que toca a condição primária do ser, que não se mostra como sabe ser, mas como quer ser. O quadro então é um puro teste psicológico que conduz o receptor às profundezas de sua alma, a arte se torna a consciência do fenômeno enquanto fenômeno, antes de sua racionalização. Kandinsky se preocupa com o “significante”, infinito em suas possibilidades, e não com o “significado”, restrito à racionalização humana.
A Arte Como Estímulo Sensorial
Partindo da premissa de que a arte é estimulo sensorial e não a representação de modelos, Kandinsky começa a desenvolver uma teoria compositiva que atribui valores dinâmicos aos signos plásticos, como o movimento excêntrico do amarelo e concêntrico do azul. Clareiam-se então conceitos dinâmicos nas unidades da arte pictórica, o que permite relacioná-la com a música, permitindo algumas estratégias de modulação dos signos através das relações entre formas e cores.
Obviamente o que foi apresentado aqui é uma parca apresentação dos conceitos de “Sobre o espiritual na arte”, a ideia é instigar designers e artistas à refletir sobre as possibilidades comunicativas das formas e cores, além, claro, de indicar uma boa leitura. Kandinsky apresenta em sua obras experiências não apenas estéticas, mas também psicológicas, que provocam uma intensa troca entre o emissor e o receptor, confundindo-os no processo. Ainda em tempo, está rodando pelo Brasil uma mostra do artista, que vai perdurar até setembro de 2015.