Conheça o app e os óculos que destacaram duas designers formadas pela UFPR no 2º Prêmio do Instituto Tomie Ohtake  



Com foco em sustentabilidade, trabalhos propõem reciclagem e reúso com abordagens bem diferentes entre si; finalistas receberão subsídio para construir protótipos até maio de 2020.

Duas designers recém-formadas pela UFPR se destacaram na edição 2019 do Prêmio de Design Instituto Tomie Ohtake Leroy Merlin com projetos bem diferentes entre si, que agora receberão subsídio para serem prototipados. A lista de 15 projetos selecionados foi divulgada pelo Instituto Tomie Ohtake no dia 5. Nessa primeira etapa, os finalistas ganham, além dos recursos para criar os protótipos, uma exposição no instituto, sediado na capital paulista, e integram um catálogo sobre o prêmio, voltado a estudantes universitários. Em maio ocorrerá a divulgação dos três grandes vencedores.

Os projetos de egressas da UFPR são o aplicativo Composto, de Maria Eduarda Iranaga, formada em Design Gráfico, que concorreu na categoria “web”; e a coleção w.e.s – what eccentric specs!, de Helena Resende Ribas, formada em Design de Produto, inscrito na categoria “produto”.

No caso de Helena, o projeto foi objeto do trabalho de conclusão de curso (TCC), defendido em 2018 e orientado pela professora Dulce Albach. A coleção w.e.s teve como foco a reutilização de um material descartado no lixo do Restaurante Universitário (RU) do Centro Politécnico, da UFPR — durante a graduação, Helena frequentou no mínimo duas vezes por semana outro RU da UFPR, o Central.

O polímero PEAD, usado principalmente em embalagens, tem potencial poluente, já que demora centenas de anos para se degradar ao ar livre e nem sempre é encaminhado para reciclagem — o que ocasiona um percentual considerável de presença desse plástico em aterros sanitários.

Reciclagem

“No caso do projeto da Helena, essas embalagens se adequam porque o produto é exclusivo e artesanal, com volume reduzido de plástico”, avalia Dulce, que destaca a inter-relação cada vez maior entre design e sustentabilidade, da criação ao descarte ou reúso. “Neste sentido, o projeto também tem uma função importante de incentivar a discussão e chamar a atenção para o problema do volume de embalagens plásticas sem destino de descarte planejado e as graves consequências para o meio ambiente”.

O material foi usado para a produção de uma coleção de óculos com três modelos. A opção de Helena por criar os óculos foi pessoal (“são artigos que eu uso muito e adoro”, diz ela), mas também houve fundamento na investigação sobre as preferências de consumo do público-alvo escolhido, os millennials (pessoas de até 40 anos).

A fonte de inspiração estética foram os filmes do cineasta Wes Anderson, de O Grande Hotel Budapeste (2014) e Os Excêntricos Tenenbaums (2001). “É um dos meus diretores favoritos e, quando comecei a me aprofundar nas características dos millennials, na etapa de análise de usuário, li sobre a tendência à nostalgia. Achei que tinha tudo a ver com a filmografia dele”, afirma Helena, que é hoje é designer de produto em Curitiba no estúdio de criação de móveis Asadesign, fundado por designers formados na UFPR.

A origem do PEAD foram galões de cinco litros (cerca de 115 gramas de plástico) que armazenavam produtos de limpeza. No processo descrito pelo TCC, o material é convertido em uma placa de polímero  de 110 gramas, dos quais 15 gramas eram usados na produção dos óculos. O restante pode ser derretido novamente para fazer uma nova placa. Helena conseguiu viabilizar a produção dos óculos por meio de uma parceria com o Estúdio Lenha, de Curitiba, cujo dono também é egresso do Design da UFPR.

Hortas urbanas

O interesse crescente por dar uso ao lixo orgânico foi o tema do aplicativo desenvolvido pela designer Maria Eduarda Iranaga. Ela criou um app para ser usado por adeptos da compostagem, que é a transformação de lixo orgânico em adubo, em geral para uso em hortas, muitas vezes urbanas.

“Tenho interesse em questões de sustentabilidade, de uns tempos para cá comecei a pesquisar sobre movimentos de lixo zero, e descobri que a compostagem doméstica está voltando porque muitos também se preocupam com isso. Todo mundo que participa desse movimento tenta fazer [compostagem], só que é muito difícil quando você mora na cidade, em apartamentos. Estou em vários grupos de compostagem no Facebook e vejo que as pessoas têm muitas dúvidas, como o que fazer quando surgem bichos na composteira, coisas assim”, conta.

A ideia de Maria Eduarda foi concentrar o hábito de ajuda comunitária, típicos de quem tenta reduzir o lixo diário, em uma ferramenta digital. Assim surgiu o app Composto, que reúne informações e interesses para quem quer aderir à compostagem doméstica, além de uma seção chamada “minha composteira”, em que é possível controlar a saúde do ecossistema, já que nem todo lixo orgânico deve ser colocado nele livremente.

“O aplicativo ajudaria as pessoas que já compostam. É bem simples: a pessoa informaria o que e quanto está colocando na composteira e o aplicativo faria um cálculo de proporção entre os alimentos. Isso também deixaria registrado o histórico de todo o lixo que a pessoa deixou de gerar, o que é uma conquista”, explica Maria Eduarda, que atualmente está fazendo intercâmbio nos Estados Unidos.

Com o subsídio entregue aos finalistas pelo prêmio, Maria Eduarda poderá fazer um protótipo do aplicativo.

Sobre o prêmio

Em sua segunda edição, o Prêmio de Design Instituto Tomie Ohtake Leroy Merlin foi criado para que todas as áreas temáticas de que trata o instituto fossem abrangidas, além das artes plásticas e da arquitetura — já com premiações reconhecidas. O público são estudantes universitários e, os temas, desafios contemporâneos. Como diferencial, o prêmio de design é interdisciplinar, o que permite a inscrição de projetos concebidos por estudantes de outras áreas, como biologia, engenharia e ciências sociais. De acordo com o instituto, esta edição do prêmio reuniu 133 inscrições provenientes de 18 estados brasileiros e Distrito Federal. O júri foi composto por Guilherme Falcão, Indaia Militão, Luís Antônio Jorge, Luiza Crosman, Pedro Moraes, Priscyla Gomes e Rodrigo Ohtake. Os três ganhadores serão conhecidos no dia 16 de maio, que serão contemplados com bolsas de estudo em cursos de design no exterior. A data também marca a abertura das inscrições para a terceira edição do prêmio. Na primeira edição, em 2018, também houve dois finalistas entre alunos do Curso de Design de Produto da UFPR.