Texto de Felipe Perobeli

PROCURA-SE HOMENS

Para uma viagem perigosa, pequenos salários, frio intenso, longos meses de completa escuridão, constante perigo, retorno seguro duvidoso, honra e reconhecimento em caso de sucesso.

Esse pequeno texto tem uma origem um tanto obscura e não se sabe ao certo onde ele foi publicado, embora haja muitas especulações sobre ter sido em um jornal londrino há mais de 100 anos. O anunciante, porém, nós conhecemos: Ernest Shackleton, o primeiro homem a fazer uma expedição à Antártida em 1914, exatamente 100 anos atrás.

Procura-se grandes homens, paga-se mal.

A eficiência da escrita

Julgando a forma como o anúncio foi escrito pode parecer que muitos se revoltaram e deliberadamente criticaram o comunicado feito por Shackleton. Pode parecer até mesmo que ele não obteve resposta e, inclusive, que não queria que alguém o procurasse. Afinal, que tipo de pessoa simpatizaria com essa chamada?

A verdade é que, com grande êxito, Shackleton conseguiu recrutar as pessoas ideais para a expedição, que foi um sucesso (apesar de alguns problemas), e não foi por acaso. A resposta para a pergunta é: Apenas os mais bem preparados e dispostos simpatizaram com o anúncio. Isso tem a ver, diretamente, com a maneira com que este foi escrito.

A lógica da comunicação

É simples entender porque Shackleton escreveu com aquelas palavras, ele queria que as pessoas estivessem cientes dos grandes riscos que seriam enfrentados na viagem e somente o procurassem se estivessem preparadas e dispostas a enfrenta-los.

O resultado não poderia ter sido outro, pouquíssimas pessoas o procuram interessados em fazer parte da expedição. As pessoas que se ofereceram, entretanto, eram as mais bem qualificadas entre as que poderiam ter aparecido. O interesse dessas pessoas não era dinheiro, afinal ele disse que o salário seria baixo, o interesse real era o reconhecimento pela façanha inédita, talvez até mesmo a excitação pelo perigo.

Durante a expedição, a equipe recrutada por Shackleton sofreu dos piores tipos de imprevistos possíveis, passaram fome, frio, se machucaram e tiveram que andar muitos quilômetros a pé depois que seu navio, chamado Nimrod, ficou atracado no gelo. Porém todos conseguiram chegar ao fim da expedição sem maiores danos, pois todos que se interessaram pela jornada eram especialistas em sobrevivência, homens bem treinados e que já sabiam que isso poderia acontecer. 

Estamos todos em expedição

No mundo empresarial estamos todos à bordo de um Nimrod e estamos indo rumo a um grande objetivo, o mais preocupante agora é saber se estamos fazendo isso com as pessoas certas. Afinal, se passarmos pelas mesmas dificuldades que a equipe de Shackleton passou, precisaremos ter a capacidade de sair dessa situação e não faremos isso sozinhos.

A forma como você se expõe, a maneira como você fala e age influencia muito o ambiente em que você vive, ao mesmo tempo em que você é influenciado pelo ambiente e pessoas que convive também, especialmente no trabalho, onde passamos a maior parte dos nossos dias durante a semana. Por isso é importante estar trabalhando na equipe certa, um verdadeiro time, pessoas que saibam resolver problemas quando unidos. 

Porque recrutar as pessoas certas

Algo que as empresas deveriam virar os olhos mais atentamente é exatamente a forma como Shackleton se preocupou em procurar por uma equipe 100 anos atrás. Ele não queria especialistas, peritos, pessoas de renome ou com grande experiência em expedições. Shackleton estava prestes a fazer algo inédito e precisava encontrar pessoas dispostas e motivadas a sair de qualquer tipo de problema, pessoas que estivessem cientes dos perigos e problemas que seriam enfrentados.

A empresa Tower Watson que ajuda outras empresas a melhorar sua performance fez uma pesquisa das principais causas de stress do ponto de vista do empregador e do empregado.


 Para o empregador as três coisas mais estressantes são:

  1. Falta de equilíbrio entre vida profissional/pessoal
  2. Pessoal inadequado
  3. Tecnologia expandida (uso de smartphones por funcionários)

Para os empregados as três coisas mais estressantes são:

  1. Pessoal inadequado
  2. Baixo salário
  3. Expectativa de trabalho pouco claras

É evidente que, dos três tópicos mais importantes, ambos os lados sofrem e se estressam por trabalhar com pessoas que eles julgam ser “inadequadas”. Essas pessoas são contratadas porque as empresas se empenham em recrutar funcionários apenas pelo ponto de vista profissional, avaliando atributos técnicos, como formação e experiência no mercado e apenas isso. Esse é um método tradicional que pouco mudou até os dias de hoje. 

Como criar um time com as pessoas certas

Vamos diferenciar time de equipe, certo? Acredito que todos já trabalharam em alguma equipe, mas dificilmente essa equipe se transformou em um verdadeiro time. A diferença é simbólica: Equipe refere-se a um grupo profissional ou mesmo acadêmico onde você tenha feito algo em comum por um certo tempo; Time é exatamente a mesma coisa, porém, com pessoas que se entendem quase visceralmente, pessoas alinhadas nos mesmos objetivos e que produzem o mesmo resultado de uma equipe com menos atritos e mais eficiência.

Claro que esse segundo caso é menos estressante, quem não gostaria de trabalhar com pessoas agradáveis? E de que forma a empresa pode contribuir para transformar equipes em times? Felizmente Shackleton nos deu a resposta: Através da comunicação certa! Todos os contratados devem pertencer a um grupo cultural similar para que eles se descubram e, finalmente, passem a trabalhar com mais autonomia e liberdade.

Por fim, um exemplo real e atual de como se posicionar, como empresa, para contratar pessoas preparadas para trabalhar em um verdadeiro time. A comunicação não é formal e mostra que a empresa está interessada em contratar alguém que atinja uma qualificação mais cultural do que meramente técnica. Afinal, não estão procurando um designer, estão procurando por um GUERREEEIIIRO.

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