Por Sokrates Papageorgiou.

O design é o vetor organizador do mundo industrial, separa os produtos por públicos alvos e comunica, além da usabilidade, características subjetivas para atrair consumidores. O proto-objetivo do design é tornar as coisas usáveis, o segundo é deixá-las atraentes, uma Cadeira Paulistana serve para sentar, assim como todas as outras cadeiras, mas algo a torna especial, algo em sua construção e em sua forma de comunicar subjetivismos dão à ela a honra de estar em museus pelo mundo, glória negada à cadeiras de plástico de padarias. O fato é que, salvo algumas poucas peças, ambas compartilham o mesmo destino, vão para o lixo, ou seja, caem em desuso.

A lógica é simples, a indústria busca o lucro proveniente da venda de seus produtos, para garantir um lucro contínuo ela força as vendas de seus estoques para produzir mais e não deixar a roda parar. Saem das fábricas bens de consumo, propriedades prontas para serem usadas e descartadas quando se esgota sua serventia ou surge algo mais moderno. Claro que a durabilidade do produto é variável, as vidas de uma Cadeira Paulistana e de uma cadeira de plástico de padaria dentro de uma casa tendem a ser diferentes por razões objetivas, como a qualidade do material e o preço, e subjetivas, como o status, a elegância ou o bom gosto.

Não são apenas os produtos materiais que padecem desse mal, peças gráficas também tem prazos de validade e são descartados quando estiverem esgotados. Os logotipos são um belo exemplo, as empresas tendem a atualizar suas marcas, e consequentemente seus logotipos, para otimizarem sua comunicação com o público alvo. Assim como no caso das cadeiras, a perenidade dos logos é variável, a Coca-Cola deu ao seu uma vida muito grande, uma gestão de marca diferente da Rede Globo, que modifica constantemente o seu. O descarte de uma programação visual também causa danos ambientais, quantos objetos foram descartados na troca de logotipo dos Correios? No caso de produtos projetados por telas, a questão específica é a do consumo de energia e dos materiais de produção, mas o próprio substrato é um problema quando descartado, quantos celulares são jogados fora por ano?

Para tentar minimizar o descarte já existem projetos de design que preveem mais de um uso para o objetos, outros que resignificam coisas obsoletas, que usam materiais reciclados, que fazem uma escolha consciente dos recursos. Ainda estamos longe de resolver o problema do descarte e dificilmente o faremos se a prioridade for consumir o mundo e descartar os bagaços como se não houvesse amanhã. Um projeto de design deve se preocupar com o uso, com os signos que definem o objeto, com o mercado, com as necessidades da produção, com a matéria prima e com o pós-uso, para tentar minimizar o dano.

Os recursos naturais, que são a base do capitalismo, são finitos e se chocam com a ambição de crescimento econômico infinito. Como o grande lema econômico é “a roda tem que girar”, o grande desafio dos designers do novo milênio é o de projetar pensando, ao mesmo tempo, nas necessidades individuais e universais, em como será produzido e descartado aquele produto, ou em como dar novos significados para o mesmo. Tarefa extremamente difícil pelas características do design, como atividade política que atende, primariamente, às necessidades imediatas, adicionando assim ao escopo uma dose de “futurologia”.

As perguntas que deixo são: Como a universidade está tratando as responsabilidades do design? Como nós estamos atuando para minimizar os danos de nossos projetos? A autocrítica é fundamental para a construção de um mundo melhor!